terça-feira, 25 de maio de 2010

versinhos à Diná!

com vozes de outrora compõe frases hodiernas,
tem voz mansa e fala bonito.
pretérito mais-que-perfeito composto, porque o simples é deveras simples
se puderes alcançá-la
ser-lhe-às grato pela vida afora...

Alvíssaras, a Língua Portuguesa a ti rende louvores!

sexta-feira, 14 de maio de 2010

subway day by day

A caminho do trabalho, condução lotada como de costume
cidade grande é mesmo assim, acostuma-se com tudo

um senhor posiciona-se à minha frente,
parece que vai descer na próxima estação.
o trem para e ele lá fica, estagnado

pensei que descia mas não ousa fazê-lo
atrapalha-me a saída:

que estupidez, meu senhor!
estar assim gratuitamente a atrapalhar a passagem alheia?

desço, enfim.
o trem segue e a cidade para.

o senhor que me atrapalhara a descida sorri...

ouvir não pode pois lhe faltam os tímpanos.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Acelerou!

Brigavam todos os dias.
Sorriam para os vizinhos.
Comiam feito animais.
E o tempo passava lentamente...

Choravam escondido um do outro.
Sentiam saudades dos tempos bons.
Dormiam feito estranhos.
E o tempo passava lentamente...

Amavam as coisas.
Trabalhavam no mesmo lugar.
Dançavam sempre músicas iguais.
E o tempo passava lentamente...

Um dia resolveram mudar.
Em muitos aspectos: passaram a comer vagarosamente, a sorrir um para o outro, a dormir abraçadinhos...

E o tempo acelerou!

sábado, 17 de abril de 2010

Quando Deus apaga o passado, o que é novo ganha ares de atemporalidade!

sábado, 10 de abril de 2010

De duas vidas, uma se fez!
Eram mais do que amantes, amigos, enfim
Eram um só, nada mais!

Queriam-se em afinidades tais
deitavam-se em verdes paisagens oníricas
Sonhavam que eram pássaros a ganhar os céus dos céus... e assim o eram.

Pensavam em todos, lembravam de si
Corriam em muitos ideais, e não tinham nenhum ao mesmo tempo
E o tempo passava, os envolvia, consumia...

De duas vidas, uma se fez!
e encheu-se o lar da mais tenra alegria

E o mundo todo abençoou a celebração da vida,
que quanto mais se multiplica, mais se torna una...e única!

sexta-feira, 26 de março de 2010

Crise II

A vida dele se resumia a duas coisas:
trabalho era a primeira,
a vida toda, a outra coisa.

Trabalhava feito louco,
dia e noite, sem descanso
E a vida, a outra, levava...

Veio a crise, de mansinho
E levou-lhe tudo de uma vez
A vida que pensava ter,
e o trabalho que o fazia viver.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Silêncio de olhos verdes

Silêncio de olhos verdes

Era uma viagem normal. Ao menos, parecia normal. Passagem comprada e logo estaria de volta, em casa, depois de um fim de semana esplêndido na companhia dos amigos. Especialmente pela companhia daquele amigo.
Feliz. Estava realmente feliz ao se acomodar na poltrona de número 10, perto da porta, longe do banheiro, na fileira do motorista, como lhe ensinara a avó.
Porta fechada e as instruções.
Primeira etapa da viagem, tudo em paz. O motorista cantarolava uma canção conhecida, muito antiga. Por vezes, assobiava. O ônibus era confortável, reclinava quase como um leito; perfeito!
Ouvia músicas quando de repente ouviu um ruído que parecia indicar que aquilo tudo era um sonho. E que era hora de acordar.
-- Foi o tambor. Tenho certeza que foi o tambor. – repetia o motorista levando as mãos à cabeça.
  Desceram todos, ela inclusive, no meio da estrada, o sol a pino e um ônibus quebrado na beira da estrada.
  Em solidariedade ao motorista, outros ônibus paravam e ofereciam carona aos pobres desalentados.
Pouco a pouco, sumiram os outros. Na vez dela, parou um ônibus esquisito, visivelmente velho e mal cuidado. Hesitou. Pensou, porém, que ainda iria trabalhar naquele mesmo dia que já apontava sua segunda metade e decidiu embarcar assim mesmo.
Estava certa, o ônibus era péssimo! Já rodava há 3 dias, vinha de longe, muito longe e não cheirava bem...
Não por culpa das pessoas, mas é que ônibus que roda há mais de 1 dia na estrada, sem parar, não pode mesmo cheirar bem.
Aproximou-se de um banco vazio. Ao lado, uma senhora de olhos verdes e lenço na cabeça a olhava como se a esperasse há muito. Pediu licença e sentou-se. Acomodou-se como pôde, sentiu dificuldade extrema em acomodar suas longas pernas mas conseguiu, enfim, se ajeitar.
Ao lado, a senhora a olhava, fixamente como quem deseja perguntar algo. Ninguém sabe porquê, mas ela nada dizia.
Aquele silêncio complacente ia-lhe  corroendo o espírito, mas nada podia fazer a não ser esperar.
Esperou. Esperou e repetiu a espera.
A viagem chegou ao fim. A senhora, a olhá-la fixamente como quem deseja perguntar algo.
Não houve pergunta. O ônibus parou, todos desceram. A senhora de olhos verdes também e, com um sorriso e um aceno, já ao longe, tentou enfim lhe dizer o que tanto a angustiara a viagem toda...
Não o pôde. A família que a aguardava no desembarque, sufocou-a com uma chuva de beijos e abraços infindos. Era uma festa linda de se ver, em plena rodoviária.
Todo aquele silêncio, já de malas nas mãos, a fez olhar para trás pela última vez.
Percebeu então que havia uma semelhança muito grande entre uma menina que abraçava a senhora e sua própria imagem, embora aquela parecesse bem mais magra e alegre que ela, dadas as circunstâncias da penosa viagem.
E foi assim que o silêncio sem fim teve, ao menos, explicação.


sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

1 quarenta e cinco avos


Hoje,
após quarenta e cinco dias a fio,
bem na hora da chuva, perto das quatro da tarde,
ainda havia um céu azul-cinzento bem clarinho.

E o Sol, que fazia as vezes da casa,
brilhava, imponente, como sempre deveria ser
Nos fins de tarde de verão...

Que alívio!

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Conta outra...

Não acredite em amores que se vão,
que esmaecem, que findam, que nunca mais são...
Isso nem de longe é amor, ou coisa que o valha!


Chegou de mansinho, mandando flores, até... como quem tenta se convencer de que é alguém digno de confiança. A confiança, essa já fora quebrada há anos e não havia mesmo jeito de atá-la novamente. Impossível.
Mandou vinte e-mails, escreveu comentários no blogue, ligou na casa dos antigos amigos em comum, tudo em busca de uma pista, sequer... em vão! Apareceu na antiga casa dela, falou com o vizinho (que já era mais o mesmo da época em que eles namoraram) que não pode ajudar: nunca ouvira falar dessa menina.
Mandou mais e-mails, insistiu...quem sabe ela respondesse? Nada.
Sentou no lugar de outrora, já não havia mais brilho nem esperança... Acendeu um cigarro, pela primeira vez na vida, e se sentiu melhor. Depois tossiu, discretamente, mas tossiu...pigarreou, melhor dizendo. Abriu o caderno de anotações que trazia no bolso, tentou lembrar-se de alguém pra quem pudesse ligar, ao menos alguém saberia dizer onde encontrar aquela que supunha ser a mulher da sua vida...nada!
Voltou pro hotel onde estava hospedado. Arrumou as malas. Pagou a conta na recepção e chamou o táxi. Foi pro aeroporto, comprou a passagem e esperou o avião por uma hora.
Chorou bastante. Sentiu raiva de si mesmo. "se não tivesse sido tão burro..." e milhões de outros "se" lhe engarrafaram a mente.
Ao embarcar, lembrou que na última página do velho caderninho havia um número que não havia ligado...quem sabe nesse, pensou...Última tentativa, ligou do celular mesmo, ávido, ansiedade espalhada por todo o corpo. Nada. Ninguém atendeu.
Embarcou com destino ao país distante de onde viera...
Tarde demais: Perdera o amor da sua vida!

Desembarcou. Fazia um frio causticante na sua terra natal.

No aeroporto, com flores na mão e uma garrafa de vinho tinto, o esperavam a esposa e os dois filhos. Finalmente o papai voltara da viagem de negócios que o levara por um mês inteiro àquele país distante cujo nome eles nem sabiam pronunciar direito...

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Bateu asas e voou...

Àqueles que dedicaram a vida em prol dos desvalidos,
Aos que amaram mais do que a alma podia suportar,
A todos os que se doaram e se deixaram gastar por amor e tão somente por amar...


A eternidade vos espera!

"Pense no Haiti, reze pelo Haiti!" (Caetano Veloso)

Médica Veterinária

—Tá decidido! Vou fazer Veterinária!
Foi assim que num final de tarde, com um acinte súbito, sob os olhares atentos da mãe que lhe penteava a longa cabeleira já não tão embolada, que a menina de uns 17 anos terminou a conversa ao telefone. Falava com a melhor amiga sobre o vestibular quando tivera a grande ideia de prestar Medicina Veterinária. A mãe, não sem razão, se viu dividida entre sentimentos de felicidade e espanto, afinal na família quase ninguém havia sequer terminado o Ensino Médio. Dos que cursaram a universidade havia só um tio, dado às coisas da lei, que por haver concluído com louvor o primeiro período do curso de Direito se julgava perito no Código Civil, seu livro de cabeceira há anos.
Não tinha a intenção de ser o exemplo de ninguém; decerto isso nem lhe passou pela cabeça uma vez que em casa não costumavam lhe dar muito crédito.
Os dias se seguiram preguiçosamente. Nas aulas da escola sempre o mesmo ritual: sentava-se ao pé da professora, abria livros e cadernos e, de uma maneira que só ela sabia fazer, ajeitava-se confortavelmente sobre os dois braços e nesta posição permanecia por quase toda a aula. Tudo exatamente igual: a escola, as aulas, a mesa bem pertinho da professora, os livros e a ideia fixa de ser veterinária.
Na manhã da prova do vestibular, a menina acordou cedo. Mais cedo do que costumeiramente, é verdade, mas havia um brilho em seus olhos, o que parecia uma coisa boa.
Chegou rápido ao local. Acomodou-se na sala e achou graça ao perceber outros rostinhos jovens como o seu, repletos de sonhos e boas intenções, sedentos por começar a construir um futuro de paz e felicidade tão logo ultrapassassem o teste que dali uns minutinhos estaria sobre a mesa de cada um. Uma prova. Uma única prova a separava do sonho de ser veterinária. Parecia tão fácil...
O fiscal distribuiu as provas. Como na sala de aula, a menina separou lápis e canetas, passou os olhos naqueles papéis ─que aos poucos começavam a não fazer o menor sentido─ ajeitou-se confortavelmente sobre os dois braços entrecruzados em cima da mesa e, como que cumprindo um ritual de todas as manhãs, deitou a cabeça adornada pela longa cabeleira e assim permaneceu. Ao soar a campainha que apontava a entrega das provas ao fiscal, a menina levantou-se, limpou o rosto, juntou seus pertences e foi pra casa. Seguia sorridente e ainda acalentava o sonho de ser médica veterinária...